Clima: acordo histórico alcançado em Durban

11-12-2011 23:38


Os 195 países presentes na COP-17 concordaram iniciar negociações com vista a um programa para combater as alterações climáticas. Ministra portuguesa do Ambiente Assunção Cristas destaca "passo em fente". Quercus critica "falta de ambição".

 

A presidente da conferência climática de Durban (COP17), a ministra sul-africana Maité Nkoana-Mashabane, anunciou que os 195 países chegaram a acordo sobre um programa para definir um novo rumo para combater as alterações climáticas nas próximas décadas.

O plenário informal da 17ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas Contra as Alterações Climáticas (UNFCCC), reunido desde a 01h00 hora local (23h00 de sábado em Lisboa), chegou a acordo para iniciar as negociações de um novo acordo para colocar os países sob o mesmo regime legal e reforçar o seu compromisso para controlar a emissão dos gases de estufa. O compromisso deverá entrar em vigor o mais tardar até 2020.

O acordo foi alcançado após a resistência da Índia e China, e de longas horas de negociação, que levaram a apelos da União Europeia, Estados Unidos e Brasil e da própria Maité Nkoana-Mashabane, de "não fazer de Durban uma oportunidade perdida".
Assunção Cristas: "Foi um passo em frente"


A ministra portuguesa do Ambiente considerou hoje que a cimeira de Durban foi um passo em frente para conter as alterações climáticas, ao aceitar um acordo abrangente, incluindo países poluidores que até agora tinham rejeitado compromissos.

"Foi um passo em frente, um passo de que muitos duvidavam, um passo num caminho que será com certeza um caminho de intensas negociações até se chegar ao instrumento de 2015, mas eu diria que nós hoje estamos muito mais otimistas e muito mais bem posicionados para conseguirmos os nossos objetivo de mantermos a subida de temperatura abaixo dos dois graus", afirmou Assunção Cristas, à chegada a Portugal.

"Era preciso que ficasse definido com clareza, do ponto de vista do tempo, como é que se ia processar, e saímos de Durban com a plataforma a dizer-nos que vamos começar a trabalhar para em 2015 já termos um instrumento abrangente e depois, a partir daí, vermos até quando e em que moldes vai entrar em vigor", explicou Assunção Cristas.

A ministra do Ambiente destacou o papel "da liderança" da União Europeia (UE), que "conseguiu agregar junto a si" os países menos desenvolvidos num bloco que juntou mais de 120 países, o que "deu força à Europa para conseguir a viragem de países como os EUA, a China e a Índia", que não retificaram o protocolo de Quioto.
Quercus: "Pacote de Durban tem falta de ambição"


A Quercus considera que o "Pacote de Durban", acordado hoje na 17ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas Contra as Alterações Climáticas, tem "falta de ambição" e "é para demasiado tarde".

"O denominado "Pacote de Durban" tem falta de ambição, não apresenta um caminho claro de redução de emissões e concordou com um fundo climático que está vazio", refere o comunicado da Associação Nacional de Conservação da Natureza (Quercus), a propósito do acordo alcançado esta madrugada, em Durban, na África do Sul.

Para a Quercus, "Durban deu um passo em frente para um tratado global mas continuamos num caminho para um aumento de temperatura de 4ºC em relação à era pré-industrial e portanto acima de um aumento de 2 ºC que constituem o limite acima do qual as alterações climáticas serão catastróficas". Ao acusar o "Pacote de Durban" de "falta de ambição", a Quercus apontou que "as conversações nas Nações Unidas sobre o clima apenas são fortes se as políticas foram igualmente fortes".

"Houve uma importante e positiva aliança da União Europeia, países menos desenvolvidos e países pequenas ilhas. Os Estados Unidos conseguiram impedir muitos dos países progressistas de tomarem as ações desejadas, e nesse sentido foram apoiados pelo Canadá, Austrália e Nova Zelândia. O Japão e a Rússia não desempenharam o papel que podiam ter assumido", refere a associação no documento ao qual a agência Lusa teve acesso.

A associação ambientalista defende que "o Protocolo de Quioto de momento está enfraquecido por ter basicamente apenas a Europa, Austrália e Nova Zelândia, sendo que também estes dois últimos têm levantado algumas dúvidas em relação ao futuro".

Além disso, "muitos assuntos particulares, por exemplo, a contabilização das emissões do uso do solo e floresta, a integração da captura e armazenamento de carbono nos mecanismos de flexibilidade, podem levar a que o objetivo de redução de emissões não seja alcançado como desejado", indicou.